quinta-feira, 8 de outubro de 2009
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
PRÓLOGO
Estava empoleirado em uma velha escada de madeira, guardando o ultimo dia do livro na prateleira mais alta da estante mais ao fundo da enorme biblioteca quando a sentiu pela primeira vez. Seus movimentos cessaram instantaneamente pela força do impacto que aquela presença causou, deixando sua mão parada no ar, com o livro a meio caminho do seu lugar. O mundo pareceu estremecer e girar para logo em seguida posicionar-se no lugar certo de volta, como se jamais tivesse se movido – certamente não se moveu, ou Michael teria caído e levado algumas estantes consigo. Não precisava ver pra ter a certeza de que aquela era a garota que ele procurava. Encontrá-la havia sido mais fácil do que imaginava afinal.
O ar, agora, estava carregado de eletricidade e estática; podia sentir seus pêlos se eriçarem, um zumbido baixo e constante em seus ouvidos, abafando as vozes mentais – pensamentos alheios – as quais já estava tão acostumado com a presença invasiva. Seria um alivio se todo o resto – toda a sensação desconcertante – não existisse.
Michael estava acostumado a ouvir em sua mente os pensamentos de todos ao seu redor, geralmente conseguia se desligar por completo de todas aquelas vozes até que não passassem de murmúrios baixos, mas ainda assim, continuava a ouvi-los. Tinha de ouvi-los, lembrou, fazia parte do seu trabalho, da sua missão. Era por isso que ele estava ali, naquele planeta, naquela cidade.
Balançou a cabeça para colocar as idéias no lugar e finalmente guardou o livro na estante. Desceu da escadaria de apoio em um pulo rápido, aterrisando ao chão suavemente, sem um único barulho. Estava curioso. Precisava vê-la antes que tivesse qualquer contato com ela. Precisava analisá-la, pensar na melhor forma de agir.
O lugar estava praticamente vazio, já passava alguns minutos do horário do fechamento e uns últimos alunos terminavam seus afazeres, guardando cadernos, canetas e livros em suas respectivas mochilas, enquanto Michael deslizava pelos corredores, aproveitando os espaços entre as prateleiras e livros para procurá-la.
E lá estava ela, apoiada no balcão central, mexendo em sua mochila, derrubando seus pertences por todo lado enquanto procurava por algo – um livro, provavelmente –, deixando alguns caírem no chão descuidadamente. Michael suspirou em silêncio. Ninguém o havia preparado para o que encontraria. Apesar da enorme franja que cobria parcialmente seu rosto e dos óculos horrorosos que pendiam na ponta do nariz minúsculo, aquele exemplar feminino estava acima de tudo que ele já tinha encontrado desde sua chegada a Terra.
A garota parou por um momento, erguendo os olhos. Olhou tudo ao redor, como se procurasse algo, parando finalmente em sua direção, encarando-o com os olhos apertados por cima da armação dos óculos. Então ela também havia sentido a presença dele. Interessante.
- Ah, oi! – disse ela, visivelmente aturdida. – Desculpe, eu... Sei que estão já fechando, eu só vim...
Aturdida e embaraçada, concluiu ao vê-la empurrar os óculos com o polegar, nariz acima, um gesto particularmente gracioso para Michael.
- Não tem problema. – Michael a interrompeu enquanto saia do corredor e caminhava à passos lentos em direção ao balcão onde a garota se encontrava. – Posso ficar um pouco mais se for necessário.
A cada passo em direção à garota, Michael sentia uma pontada no estômago e seus pelos eriçavam ainda mais. Questionava-se se aquilo uma hora passaria. Era incomoda aquela sensação. Entrou no espaço reservado aos funcionários, o mesmo balcão ao qual a moça se apoiava, mas pelo outro lado.
- Ahn, obrigada, mas eu não vou demorar. – murmurou voltando sua atenção para a mochila – só vim deixar esse... esse... – parou alguns segundos, provavelmente para lembrar a palavra que queria.
Ela estava nervosa. Michael podia sentir a vibração do pequeno corpo à sua frente. Franziu o cenho ao confirmar aquilo que já sabia. Não podia ouvir nada que viesse da mente dela. Haviam avisado, é claro, mas esperava... O que esperava? Facilidade? Definitivamente não.
- Livro? – ele arriscou.
- Sim, isso! – ela levantou o rosto para agradecê-lo enquanto sorria nervosamente.
Seu sorriso congelou nos lábios enquanto o olhava diretamente nos olhos – o que ninguém conseguira fazer por mais que meros segundos desde sua chegada àquele planeta – e o fazia entre intrigada e confusa. O que não era de estranhar. Se ela sentira ao menos um terço da mesma sensação experimentada por ele momentos antes, era compreensível que ela estivesse tão assustada quanto lhe parecia. Seus grandes olhos estavam arregalados, dando a Michael a chance de analisar a cor de mel quente por trás das lentes grossas daqueles óculos redondos. Sua face estava branca, ainda mais pálida do que antes, quando a olhara por entre as brechas prateleiras. Sim, ela estava confusa e, com certeza, assustada.
- E-ele está... ahn... aqui... e-em algum lugar – gaguejou.
A garota finalmente desviou os olhos dos dele e voltou a remexer em sua mochila, impaciente. Michael pode perceber claramente o tremor de suas mãos. Bem como suas faces rosadas depois de algum tempo ao fitá-lo tão intensamente – envergonhada, ele imaginou.
Então era aquela garota que preocupava todo mundo lá do alto? Michael tinha vontade de rir da piada do destino. Aquela seria sua missão mais rápida de ser realizada de todos os tempos. Apesar dos avisos que recebera, Michael não via nada de potencialmente perigoso nela.
Tinha uma aparência mais frágil do que supunha ao observá-la a distancia. Era baixa, sua cabeça mal chegava aos ombros dele. Tinha um corpo delicado pelo que ele pudera perceber. Longos cabelos castanhos lhe chegavam à cintura formando grandes cachos anelados. Vestia um jeans velho e uma camisa azul puída presa ao cós da calça. Sua enorme mochila ainda estava jogada no balcão, assim como seus pertences: canetas, lápis, borrachas, bloquinhos de anotação multicoloridos, uma pequena tartaruga de pelúcia que, com certeza, já vira dias melhores, alguns carrinhos em miniatura – que o lembrou do irmão menor da garota – e livros, vários.
- Aqui! – exclamou puxando lá do fundo um livro velho e sem capa. Seu sorriso, apesar de contido, mostrava satisfação por encontrar o objeto.
Michael também sorriu e estendeu a mão para pega-lo. Seus dedos roçaram os delas levemente no processo. O choque da sensação que aquele simples toque causou nele fez com que puxasse o livro com rapidez e quase violência. Uma forte descarga elétrica havia passado por ele quando a tocara e tinha certeza, pelo olhar que lhe lançou, que ela também sentira.
- Allan Poe? – Michael perguntou olhando o nome do autor do livro, desviando a atenção do que acabara de acontecer.
Uma das principais exigências de sua missão era não revelar àquela garota ou a qualquer outra pessoa quem ele era e qual seu objetivo ali, naquele lugar.
- Sim. – ela murmurou desconcertada quando voltou a guardar os objetos espalhados pelo balcão em sua mochila – Era para a peça da escola que estamos organizando.
- Allan Poe? – voltou a perguntar erguendo os olhos da ficha que continha atrás do livro, agora realmente interessado.
- Sim – repetiu, empurrou os óculos pelo nariz mais uma vez e sumiu atrás do balcão, talvez para juntar o que havia caído ao chão – Precisávamos de um clássico, exigência da professora.
- Porque não Shakespeare?
- Muito batido.
- Mas Allan Poe não é um tanto pesado para o ambiente escolar? – perguntou curioso.
- É. Um pouco, – concedeu depois de alguns segundos – mas estamos mudando algumas coisas para que não fique tão pesado como você falou.
- Entendo. Que conto vão usar?
Michael já tinha dado baixa da entrega do livro, mas estava mesmo querendo saber sobre ela, conhecer-lhe a mente que não podia ouvir. Encostou-se no balcão inclinando-se para frente tentando olhar a garota abaixada do outro lado, mas ela escolheu aquele exato momento para erguer-se o fazendo pular para trás evitando um choque doloroso para ela e, é claro, para seu corpo humano também.
- O Mistério de Marie Rogêt – ela informou jogando a pesada mochila de volta ao balcão.
- Meu favorito.
- Meu também. – ela sorriu enormemente e ergueu mais uma vez a mochila para pendurá-la no ombro. – Tudo certo? Posso ir?
- Claro. – murmurou e acenou com o livro quando ela sussurrou um “até logo” tão baixo que humano algum poderia ouvir.
Michael esperou até que ela chegasse à porta.
- Sofia. – chamou em um sussurro, sabia que estava se arriscando, mas queria testá-la.
Ela estancou e permaneceu de costas alguns momentos. Virou-se lentamente com a expressão ainda mais assustada do que quando o vira a primeira vez. Michael podia ouvir com nitidez as batidas furiosas do jovem coração do outro lado da sala. Sabia que, da forma que a chamara, ela o ouvira apenas em sua mente, por isso seu aparente assombro.
- Sim? – perguntou no mesmo tom de voz dele.
Michael sentiu um arrepio subir-lhe a espinha quando a voz rouca formou-se em sua mente. Ela havia entendido o jogo. Muito mais esperta do que ele imaginara então. Disfarçou a surpresa com um sorriso amigável a brincar-lhe nos lábios.
- Esqueceu isto. – falou em tom audível agora, erguendo um dos bloquinhos de anotação que ele havia surrupiado com a intenção de provocar exatamente aquela cena.
Sofia relaxou e caminhou rapidamente de volta para o balcão, pegou o bloco que ele prudentemente deixara sobre o mesmo e enfiou no bolso traseiro da calça.
- Obrigada, Michael. – sorriu confiante.
Michael apenas ergueu uma sobrancelha ao que ela apontou com um dos seus pequenos dedos para o crachá que ele trazia preso ao peito e que esquecera completamente a existência.
Ele quase sorriu. Aquela garota era esperta, tinha compreendido o mecanismo da comunicação inaudível tão rapidamente que o deixara apreensivo. E ainda brincara com ele. Balançando a cabeça, observou enquanto ela fechava a porta da biblioteca com cuidado excessivo. Ele também precisaria tomar cuidado, ou poria tudo a perder.
O ar, agora, estava carregado de eletricidade e estática; podia sentir seus pêlos se eriçarem, um zumbido baixo e constante em seus ouvidos, abafando as vozes mentais – pensamentos alheios – as quais já estava tão acostumado com a presença invasiva. Seria um alivio se todo o resto – toda a sensação desconcertante – não existisse.
Michael estava acostumado a ouvir em sua mente os pensamentos de todos ao seu redor, geralmente conseguia se desligar por completo de todas aquelas vozes até que não passassem de murmúrios baixos, mas ainda assim, continuava a ouvi-los. Tinha de ouvi-los, lembrou, fazia parte do seu trabalho, da sua missão. Era por isso que ele estava ali, naquele planeta, naquela cidade.
Balançou a cabeça para colocar as idéias no lugar e finalmente guardou o livro na estante. Desceu da escadaria de apoio em um pulo rápido, aterrisando ao chão suavemente, sem um único barulho. Estava curioso. Precisava vê-la antes que tivesse qualquer contato com ela. Precisava analisá-la, pensar na melhor forma de agir.
O lugar estava praticamente vazio, já passava alguns minutos do horário do fechamento e uns últimos alunos terminavam seus afazeres, guardando cadernos, canetas e livros em suas respectivas mochilas, enquanto Michael deslizava pelos corredores, aproveitando os espaços entre as prateleiras e livros para procurá-la.
E lá estava ela, apoiada no balcão central, mexendo em sua mochila, derrubando seus pertences por todo lado enquanto procurava por algo – um livro, provavelmente –, deixando alguns caírem no chão descuidadamente. Michael suspirou em silêncio. Ninguém o havia preparado para o que encontraria. Apesar da enorme franja que cobria parcialmente seu rosto e dos óculos horrorosos que pendiam na ponta do nariz minúsculo, aquele exemplar feminino estava acima de tudo que ele já tinha encontrado desde sua chegada a Terra.
A garota parou por um momento, erguendo os olhos. Olhou tudo ao redor, como se procurasse algo, parando finalmente em sua direção, encarando-o com os olhos apertados por cima da armação dos óculos. Então ela também havia sentido a presença dele. Interessante.
- Ah, oi! – disse ela, visivelmente aturdida. – Desculpe, eu... Sei que estão já fechando, eu só vim...
Aturdida e embaraçada, concluiu ao vê-la empurrar os óculos com o polegar, nariz acima, um gesto particularmente gracioso para Michael.
- Não tem problema. – Michael a interrompeu enquanto saia do corredor e caminhava à passos lentos em direção ao balcão onde a garota se encontrava. – Posso ficar um pouco mais se for necessário.
A cada passo em direção à garota, Michael sentia uma pontada no estômago e seus pelos eriçavam ainda mais. Questionava-se se aquilo uma hora passaria. Era incomoda aquela sensação. Entrou no espaço reservado aos funcionários, o mesmo balcão ao qual a moça se apoiava, mas pelo outro lado.
- Ahn, obrigada, mas eu não vou demorar. – murmurou voltando sua atenção para a mochila – só vim deixar esse... esse... – parou alguns segundos, provavelmente para lembrar a palavra que queria.
Ela estava nervosa. Michael podia sentir a vibração do pequeno corpo à sua frente. Franziu o cenho ao confirmar aquilo que já sabia. Não podia ouvir nada que viesse da mente dela. Haviam avisado, é claro, mas esperava... O que esperava? Facilidade? Definitivamente não.
- Livro? – ele arriscou.
- Sim, isso! – ela levantou o rosto para agradecê-lo enquanto sorria nervosamente.
Seu sorriso congelou nos lábios enquanto o olhava diretamente nos olhos – o que ninguém conseguira fazer por mais que meros segundos desde sua chegada àquele planeta – e o fazia entre intrigada e confusa. O que não era de estranhar. Se ela sentira ao menos um terço da mesma sensação experimentada por ele momentos antes, era compreensível que ela estivesse tão assustada quanto lhe parecia. Seus grandes olhos estavam arregalados, dando a Michael a chance de analisar a cor de mel quente por trás das lentes grossas daqueles óculos redondos. Sua face estava branca, ainda mais pálida do que antes, quando a olhara por entre as brechas prateleiras. Sim, ela estava confusa e, com certeza, assustada.
- E-ele está... ahn... aqui... e-em algum lugar – gaguejou.
A garota finalmente desviou os olhos dos dele e voltou a remexer em sua mochila, impaciente. Michael pode perceber claramente o tremor de suas mãos. Bem como suas faces rosadas depois de algum tempo ao fitá-lo tão intensamente – envergonhada, ele imaginou.
Então era aquela garota que preocupava todo mundo lá do alto? Michael tinha vontade de rir da piada do destino. Aquela seria sua missão mais rápida de ser realizada de todos os tempos. Apesar dos avisos que recebera, Michael não via nada de potencialmente perigoso nela.
Tinha uma aparência mais frágil do que supunha ao observá-la a distancia. Era baixa, sua cabeça mal chegava aos ombros dele. Tinha um corpo delicado pelo que ele pudera perceber. Longos cabelos castanhos lhe chegavam à cintura formando grandes cachos anelados. Vestia um jeans velho e uma camisa azul puída presa ao cós da calça. Sua enorme mochila ainda estava jogada no balcão, assim como seus pertences: canetas, lápis, borrachas, bloquinhos de anotação multicoloridos, uma pequena tartaruga de pelúcia que, com certeza, já vira dias melhores, alguns carrinhos em miniatura – que o lembrou do irmão menor da garota – e livros, vários.
- Aqui! – exclamou puxando lá do fundo um livro velho e sem capa. Seu sorriso, apesar de contido, mostrava satisfação por encontrar o objeto.
Michael também sorriu e estendeu a mão para pega-lo. Seus dedos roçaram os delas levemente no processo. O choque da sensação que aquele simples toque causou nele fez com que puxasse o livro com rapidez e quase violência. Uma forte descarga elétrica havia passado por ele quando a tocara e tinha certeza, pelo olhar que lhe lançou, que ela também sentira.
- Allan Poe? – Michael perguntou olhando o nome do autor do livro, desviando a atenção do que acabara de acontecer.
Uma das principais exigências de sua missão era não revelar àquela garota ou a qualquer outra pessoa quem ele era e qual seu objetivo ali, naquele lugar.
- Sim. – ela murmurou desconcertada quando voltou a guardar os objetos espalhados pelo balcão em sua mochila – Era para a peça da escola que estamos organizando.
- Allan Poe? – voltou a perguntar erguendo os olhos da ficha que continha atrás do livro, agora realmente interessado.
- Sim – repetiu, empurrou os óculos pelo nariz mais uma vez e sumiu atrás do balcão, talvez para juntar o que havia caído ao chão – Precisávamos de um clássico, exigência da professora.
- Porque não Shakespeare?
- Muito batido.
- Mas Allan Poe não é um tanto pesado para o ambiente escolar? – perguntou curioso.
- É. Um pouco, – concedeu depois de alguns segundos – mas estamos mudando algumas coisas para que não fique tão pesado como você falou.
- Entendo. Que conto vão usar?
Michael já tinha dado baixa da entrega do livro, mas estava mesmo querendo saber sobre ela, conhecer-lhe a mente que não podia ouvir. Encostou-se no balcão inclinando-se para frente tentando olhar a garota abaixada do outro lado, mas ela escolheu aquele exato momento para erguer-se o fazendo pular para trás evitando um choque doloroso para ela e, é claro, para seu corpo humano também.
- O Mistério de Marie Rogêt – ela informou jogando a pesada mochila de volta ao balcão.
- Meu favorito.
- Meu também. – ela sorriu enormemente e ergueu mais uma vez a mochila para pendurá-la no ombro. – Tudo certo? Posso ir?
- Claro. – murmurou e acenou com o livro quando ela sussurrou um “até logo” tão baixo que humano algum poderia ouvir.
Michael esperou até que ela chegasse à porta.
- Sofia. – chamou em um sussurro, sabia que estava se arriscando, mas queria testá-la.
Ela estancou e permaneceu de costas alguns momentos. Virou-se lentamente com a expressão ainda mais assustada do que quando o vira a primeira vez. Michael podia ouvir com nitidez as batidas furiosas do jovem coração do outro lado da sala. Sabia que, da forma que a chamara, ela o ouvira apenas em sua mente, por isso seu aparente assombro.
- Sim? – perguntou no mesmo tom de voz dele.
Michael sentiu um arrepio subir-lhe a espinha quando a voz rouca formou-se em sua mente. Ela havia entendido o jogo. Muito mais esperta do que ele imaginara então. Disfarçou a surpresa com um sorriso amigável a brincar-lhe nos lábios.
- Esqueceu isto. – falou em tom audível agora, erguendo um dos bloquinhos de anotação que ele havia surrupiado com a intenção de provocar exatamente aquela cena.
Sofia relaxou e caminhou rapidamente de volta para o balcão, pegou o bloco que ele prudentemente deixara sobre o mesmo e enfiou no bolso traseiro da calça.
- Obrigada, Michael. – sorriu confiante.
Michael apenas ergueu uma sobrancelha ao que ela apontou com um dos seus pequenos dedos para o crachá que ele trazia preso ao peito e que esquecera completamente a existência.
Ele quase sorriu. Aquela garota era esperta, tinha compreendido o mecanismo da comunicação inaudível tão rapidamente que o deixara apreensivo. E ainda brincara com ele. Balançando a cabeça, observou enquanto ela fechava a porta da biblioteca com cuidado excessivo. Ele também precisaria tomar cuidado, ou poria tudo a perder.
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